quarta-feira, 30 de maio de 2012

30/maio- Sespa e Marinha iniciam ação contra escalpelamento



No intuito de sensibilizar barqueiros para a prevenção de acidentes com motor, por conta dos casos de escalpelamento nos rios da Amazônia, equipes da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental e da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) iniciaram nesta segunda-feira, 28, um mutirão na Feira do Açaí, no mercado do Ver-o-Peso, em Belém, para a cobertura gratuita dos eixos dos motores de embarcações artesanais que fazem o transporte da população ribeirinha.


As principais vítimas são mulheres e crianças que, ao se aproximarem do eixo descoberto, têm seus cabelos repentinamente puxados e o couro cabeludo arrancado, provocando graves sequelas físicas e psicológicas ou até mesmo a morte. Só este ano foram registrados seis acidentes com escalpelamento, o mais recente ocorrido em Oriximiná, região oeste do Estado. Em 2011, foram oito casos.



No primeiro dia da ação um trailler foi instalado na área do Complexo do Ver-o-Peso. As atividades iniciaram antes mesmo do amanhecer, às cinco horas, para sensibilizar os barqueiros que deixam cargas e passageiros no mercado sobre a necessidade de instalação do acessório a fim de evitar mais acidentes. Desde quando virou lei federal, em 2009, a instalação de proteções do eixo se tornou obrigatória. A partir de então, a Marinha, em parceria com a Sespa, através da Coordenação de Educação e Saúde e Mobilização Social, já realizou mutirões para a instalação gratuita do componente em cerca de duas mil embarcações que estavam em situação irregular.


Segundo o capitão de fragata Sérgio Ventura, chefe do Departamento de Tráfego Aquaviário da Marinha no Pará, os donos de barcos ainda sentem receio de se aproximar de ações educativas porque a embarcação não está legalizada. Mas ele esclareceu que isso não é problema, pois a Marinha também dá orientação de como fazer essa legalização e evitar a apreensão do veículo. 'Esse é só um momento de aconselhamento e orientação, como também de instalação gratuira do material. O barqueiro pode se aproximar porque a intenção de todos é erradicar esse tipo de acidente', explica o militar.


O suboficial da Marinha, José de Alencar Sena, informou que os eixos são financiados por meio de convênio com a Petrobrás, Eletronorte, Banco da Amazônia e Banco do Brasil. 'Só na ação desta semana serão instalados 150 eixos em pequenas embarcações, que aportam na Feira do Açaí. Então solicitamos que os proprietários de barcos interessados também venham até aqui para receber o equipamento', orientou o militar. A próxima ação será realizada no porto da Praça Princesa Isabel, no bairro da Condor e depois em outros portos até alcançar toda a orla de Belém.


O secretário de Estado de Saúde, Hélio Franco, acompanhou o início do trabalho dos envolvidos na ação e reafirmou que a única maneira de evitar o acidente com escalpelamento é o convencimento. 'Precisamos, como em muitas outras situações, convencer os donos de barcos de que a proteção do eixo do motor é a melhor forma de evitar esse tipo de acidente, assim como a proteção dos cabelos por parte dos passageiros, principalmente mulheres e meninas de cabelos compridos', disse, acrescentando que 'o escalpelamento é um acidente gravíssimo que deixa sequelas para o resto da vida, não apenas do ponto de vista da saúde, como também familiar e social, devido à necessidade de tratamento especializado de longa duração e custo elevado para a Saúde Pública, portanto a prevenção é o melhor caminho'.


Além do secretário, a coordenadora de Educação em Saúde e Mobilização Social da Sespa, Socorro Silva, explica que os acidentes ainda não pararam de ocorrer por conta do surgimento de mais embarcações. Segundo ela, é um processo natural, mas que exige cada vez mais empenho do poder público para alertar a população. 'Acredite, mas ainda tem gente que viaja de barco e pensa que isso nunca vai acontecer com alguém da família ou consigo mesmo. Falta a noção do perigo e estamos aqui pra isso, até porque os acidentes tem vitimados mais crianças, que se sobreviverem, perdem boa parte da infância e da adolescência em consultórios e reclusas por causa do tratamento prescrito', explica.


A parceria entre Marinha e Sespa, nos últimos cinco anos, já rendeu outras campanhas de prevenção e mutirões também pelo interior do Estado. O resultado foi a criação de 22 comitês municipais contra o escalpelamento nas cidades de perfil ribeirinho e com maiores ocorrências de acidentes, a exemplo das localizadas na ilha do Marajó e na região oeste do Estado.


Entre fevereiro e maio deste ano, por ocasião dos 73 dias de atividades da Caravana Pro Paz Cidadania Presença Viva, que percorreu 17 cidades da região do Marajó, foram reforçados os compromissos com 16 comitês. 'Além disso, a Sespa distribuiu cartazes na cidade e realizou palestras nas escolas, igrejas e hospitais para conscientizar os moradores sobre o problema com o escalpelamento', diz.


Durante o trabalho, a equipe de Socorro Silva também repassou novas informações sobre o atendimento às vítimas oferecido pelo Programa de Atenção Integral às Vítimas de Escalpelamento (Paives), realizado na Santa Casa, em Belém, e como é o acesso ao Tratamento Fora de Domicílio (TFD), um benefício fornecido pelos municípios aos pacientes que precisam de tratamento fora da cidade de origem. 'Muitas não conseguem o TFD e acabam desistindo do tratamento. Nosso trabalho é buscar essas pacientes, para que voltem ao tratamento na capital', informou Socorro, lembrando que o trabalho se repete na programação da Caravana que, atualmente, percorre os municípios da região do Baixo Amazonas.


No mês de junho deve ser divulgado o primeiro relatório com dados oficiais sobre os acidentes com escalpelamento ocorridos no Pará. O documento está sendo preparado pela Sespa, Marinha e Defensoria Pública da União (DPU) e vai conter um parecer sobre a análise minunciosa de prontuários médicos de vítimas envolvidas em acidentes fluviais no Estado a partir de 1973. A intenção de formalizar esse número é para que todos os órgãos envolvidos unifiquem as informações.


Fonte: Portal ORM
Com informações da Agência Pará

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